Com prazo para fechamento dos lixões chegando ao fim, as prefeituras têm até 2018 para planejar rapidamente a solução do manejo e implementar políticas sérias. Com isso, o I Seminário do Fórum Estadual Lixo e Cidadania – Meio Ambiente e Saneamento, pretende ajudar nas discussões e na formatação dos Planos de Resíduos Sólidos, além de cumprir o que determina a Lei 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O evento ocorrerá nos dias 20 e 21/03, às 13h30, no auditório Alexandre Borges da UFRR. Os eixos de discussão apontam a Água, Meio Ambiente e Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos como principais assuntos.
“Vamos discutir a implantação, de uma vez por todas, do Plano de Resíduos Sólidos de cada município. Quais os desafios da criação dos Aterros Sanitários? O que inclui a coleta seletiva como uma das soluções, o cuidado com a água e o meio ambiente. O roraimense não pode mais ser alheio a esse problema. Os prefeitos, os gestores, a dona de casa, o produtor rural, ou seja, todo mundo é responsável por isso”, conclamou a coordenadora do Fórum, Jucelia Rodrigues, participante pelo Sistema OCB/RR (Sindicato e Organização das Cooperativas em Roraima).
Paralelo à programação haverá exposições: dos Catadores de resíduos; artesãos que trabalham com material reciclável; pesquisas científicas das instituições superiores de ensino; unidade de Controle de Qualidade da Água; o ponto de coleta de óleo de fritura – uma Campanha da CAERR com o projeto “De olho no óleo”.
No primeiro dia o seminário prevê três salas temáticas de discussão: Cooperação e Gestão da Água; os desafios da implantação e Gestão dos Aterros Sanitários nos municípios; e Gestão e Saúde Ambiental. Num segundo momento, debates com mesas redondas sobre diversos temas relacionados à problemática.
O segundo dia será dedicado às palestras e visitas técnicas. A primeira na Associação de Catadores Terra Viva, onde as pessoas terão a oportunidade de conferir como é feito o manejo adequado do lixo; e outras duas na Estação de Tratamento de Água (ETA); e no Campo de Agronegócio na Faculdade Estácio, seguidos por mais debates sobre o Monitoramento e Qualidade da Água de Roraima; Toxicologia Ambiental; Os Desafios da Implantação e Gestão dos Aterros Sanitários; Coleta Seletiva e Reciclagem. Ao final, será elaborada a Carta do Seminário para apresentar às autoridades.
São 20 instituições que participam e apoiam o fórum: Sistema OCB/RR, CAERR, MPE/RR, DVA/CEVS, SEED, Sebrae, Unirenda, Vigilância Ambiental/SMSA, Funasa, DVA/CGVS, Eletronorte, Centro Universitário Estácio da Amazônia, SMPMA/PMBV, Embrapa, Femahr, MPT, Conab, UERR, UFRR, Fecomércio, Associação Terra Viva, Associação Global e Coep. O seminário recebe ainda o apoio das empresas: Forbrás, Rural Fértil, Sistema FAERR/SENAR, RC Engenharia, Garden Shopping, Eco Hotel, Grupo Perin, Sabão Glória e STIU/RR.
Catadora é vice-presidente do ‘Fórum do Lixo’
A goianiense Evandra do Vale, 59, é vice coordenadora do Fórum, além de recicladora, fundou e preside hoje a Associação Terra Viva. “Cheguei em Boa Vista em 2002. Comecei a trabalhar com um pequeno lanche debaixo de uma árvore na avenida Princesa Isabel. Tenho pouco estudo e vi uma mulher coletando material reciclado. Pesquisei. Vi que na rua tinha muito material desperdiçado e que dava lucro, dava pra vender, ganhar dim-dim e sustentar. Eu sinto prazer em trabalhar com isso”, relatou.
Com alguns anos Evandra conseguiu comprar um carro de segunda mão, a máquina de prensa para ajudar na coleta e preparar o material para venda. Do lixo, saia a comida e o dinheiro para pôr gasolina no carro e continuar o trabalho. No início era um lucro de R$ 0,10 (dez centavos) por quilo, hoje em dia o dinheiro incentiva a continuar com o trabalho.
Como recolhia muito material, precisa emitir nota fiscal pela Sefaz (Secretaria de Estadual da Fazenda), mas chegou um dia que a Sefaz recusou a emissão. Foi quando teve a ideia de abrir uma microempresa, o que mudou a visão de simples catadora para empreendedora de matérias recicláveis. Ideia esta que resultou no convite para fazer parte da Associação Terra Viva.
“Quando eu junto uma folha de papel jogado, tô ajudando alguém: a saúde, a natureza. É um prazer pra mim. Eu amo esse trabalho. Tenho fé que o trabalho sobre o material reciclável vai acontecer. Os grandes geradores precisam nos ajudar como shopping, supermercados, o comercio. Tem geradora que jogam 2 mil quilos de plástico por mês no lixão. Material deveria ser dado aos catadores”, defendeu.
Foi no Fórum do Lixo que ela se sentiu mais segurança no que trabalhava, pois é lá, segundo ela, que o catador vai chegar ao objetivo. “Em 2017 tudo mudou por causa do Fórum. Agradeço a Deus porque o catador não vai ficar desemparado. Precisamos de orientação. Recentemente perdi meu dedo médio contando material na serra circular e fosse orientada eu sei que até esses acidentes poderiam ser evitados, o fórum traz um pingo de dignidade pra gente”, comemorou.